quinta-feira, 16 de setembro de 2010

...Acontece...



 Parei naquela praça, para mais uma dose do meu veneno diário, mais uma prestação do meu suicídio e fiquei olhando toda aquela gente, indo de um lado para o outro, descendo e subindo. Para onde seguiam?
 Os mais jovens me faziam imaginar quais aspirações tem na vida, quais eram seus sonhos, suas metas, seus medos. Os mais velhos me entristeciam com as rugas dos sonhos que ficaram para trás. O que teriam perdido?
 Então, imersa nesses devaneios tolos, vindos de nenhum lugar e indo para lugar algum, surgiu um cachorro. Sim, um cachorro desses que vivem abandonados pelo centro da cidade, se alimentando de restos e bebendo a água suja das enxorradas.
 Sim. Era apenas um cachorro. Sozinho. Até que apareceu uma senhora, beirando seus cinquenta anos, e trazia consigo duas sacolas. Sentou-se em um banco próximo e chamou o pobre animal (por um nome que não me recordo) e ofereceu-lhe o conteúdo das sacolas. Comida.
 O cãozinho não aceitou o agrado mas enroscou-se nos pés dela como uma criança que a muito não vê a sua mãe, e ela lhe dirigia a palavra com a preocupação que se tem com um filho. Depois de algum tempo ela se foi. Ele foi fazer seu desjejum.
 Para mim ficou uma pergunta, qual dos dois se sentira mais feliz com o encontro? Ou, apenas, qual dos dois se sente mais sozinho?

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