sábado, 9 de outubro de 2010

Vertigem


 É preciso morrer de vertigem, todos os dias. Mas isso não quer dizer que há renascimento. Vertigem. Caos. As luzes que brilham quando se fecha os olhos. Faíscas. Fogo. Vertigem.
 O arrepio do sopro, o calafrio. Tudo é sensação. Perdição. A emoção de perder-se sem se encontrar, a conformação de nunca poder se olhar. Contato. Necessidade do absurdo, mudo, frio, quase congelado, no tempo que não se teve, não se ateve. Infeliz.
 Submersão. Redenção a si, por si, por não poder ser que se é, por não querer ser que se quer, por não acreditar que se crê. Vontade, vontade, vontade. Fome de poder, de poder ser livre.
 Liberdade, liberdade, liberdade, liberdade de viver toda a fantasia vertiginosa da perdição na sensação das faíscas transformando em fogo o corpo. Corpo. Ardendo.
 Como um insulto cego que ecoa no abismo da vida que se tem, que se segue, que se atreve, leve, esculpida, frágil, quebradiça, reconstituível, segura, promíscua.
 Complexo paradoxal da transparência suja da alma inata, na oblíqua dissimulação do ser que se adapta a não ser. Vertigem. O túnel escuro do inimaginável. Sem luz. Penumbra.
 Perambula e entende o contexto do ser demente ser descontente em haver e contente em viver, ou suportar. Tentar. Enfrentar. A vertigem.




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