Há tempos não fazia um dia tão lindo, céu nublado, chuva forte, vento frio. Há dias que não lia com tanto afinco, há dias que não mergulhava nas palavras e delas não saia mais.
Sentada, no banco gelado e com o vento no rosto, Clarice Lispector roubou minha alma, meus suspiros, meus pensamentos. Roubou-me o tempo e o espaço.
Não sabia mais meu nome. Não sabia mais onde estava, não sabia mais o que queria, não sentia mais o mundo.
Era triste e solitário, era melancolico. E melancolia corrói. Era simples, era puro, era compreensível. Era todo sabor mesmo que fosse acre, era todo sentidos mesmo me entorpecendo, era todo barulho mesmo que o silêncio, o silêncio...de tão leve pesava.
O devaneio para além do mistério, mistério de nós mesmos, mistério da dignidade indigna de ser "sujeita a julgamento".
De repente voltou-me a noite, as árvores, as pessoas no ponto de ônibus, os carros, e meu ônibus que passou e me deixou para trás. Tudo bem. Clarice estava comigo, em meu peito, em minha mente, na alma. Tocava-me.
Peguei outro ônibus, andei, na companhia de um pequenino bassé que me seguia. A noite sem lua. A noite sem Ixtlan.
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