sábado, 9 de outubro de 2010

Morri.



 Há tempos não fazia um dia tão lindo, céu nublado, chuva forte, vento frio. Há dias que não lia com tanto afinco, há dias que não mergulhava nas palavras e delas não saia mais.
 Sentada, no banco gelado e com o vento no rosto, Clarice Lispector roubou minha alma, meus suspiros, meus pensamentos. Roubou-me o tempo e o espaço.
 Não sabia mais meu nome. Não sabia mais onde estava, não sabia mais o que queria, não sentia mais o mundo.
 Era triste e solitário, era melancolico. E melancolia corrói. Era simples, era puro, era compreensível. Era todo sabor mesmo que fosse acre, era todo sentidos mesmo me entorpecendo, era todo barulho mesmo que o silêncio, o silêncio...de tão leve pesava.
 O devaneio para além do mistério, mistério de nós mesmos, mistério da dignidade indigna de ser "sujeita a julgamento".
 De repente voltou-me a noite, as árvores, as pessoas no ponto de ônibus, os carros, e meu ônibus que passou e me deixou para trás. Tudo bem. Clarice estava comigo, em meu peito, em minha mente, na alma. Tocava-me.
 Peguei outro ônibus, andei, na companhia de um pequenino bassé que me seguia. A noite sem lua. A noite sem Ixtlan.





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