sábado, 9 de outubro de 2010

Vegetação


 Não vivo. Apenas respiro descompassadamente enquanto os dias passam. Não vivo. Minha existência não passa de fortes contrações do diafragma.
 O que é isso? Por que isso? Tenho sonhos e pesadelos, pesadelos e sonhos, só pesadelos, não sei. Gosto deles, apesar de raramente dormir. Ou só me acostumei. Não sei.
 Mortos não sonham. Talvez eu não tenha morrido, talvez seja só a falta de horizonte no infinito. Se é que há o infinito. Não sei.
 Não sei se sou feliz em não saber ou infeliz por querer saber. Eu não sei de nada. Mas sei que seria preferível morrer de verdade que morrer em vida. Eu não suporto mais. Não, não suporto mais.
 Eu quero sumir, expirar, para aprender a respirar livremente, talvez contente com o que o mundo pode dar, que besteira, o mundo só oferece dor, dor e regra, dor e mais e mais e mais dor.
 Eu posso ouvir a satisfação nas vozes ao cochichar as desgraças acontecidas. Eu posso.
 Eu cheguei no limite. É eu tenho um limite. Eu que odeio limites. Cheguei no meu limite de viver. Morfina ajuda? Acho que nada ajuda mais. Acabou.
 Fim.
 Já posso ouvir a excitação nos cochichos.

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