Quero me deitar na grama em um dia de chuva e sentir que isso é vida, que não há nada mais à querer, nenhum problema á resolver.
Quero que a vida se resuma ao ar que respiro e nada mais. Que cada gesto surja da espontaneidade, sem ter que ser carregado e marcado por consequências.
Quero ser leve, quero a leveza além da liberdade. Cansei de culpas e responsabilidades. Quero o dia e a noite e quero aproveitá-los apenas porque são, sem sobrepesos.
Eu, eu quero simplesmente que as coisas sejam exatamente como são, quero livrá-las das simbologias absurdas e dos maus entendimentos.
Quero que o bom-dia não seja uma obrigação, que o adeus não seja uma despedida eterna e que o eu te amo seja verdadeiro.
Eu quero que a distancia não exista entre pessoas que se gostam, eu quero que as intrigas não existam para que não possam atrapalhar relacionamentos, que apesar de serem frágeis são essenciais.
Quero não precisar fingir, quero não precisar omitir, quero não precisar carregar o peso de não ser entendida.
Eu vivo de amores platônicos, de laços desamarrados e árvores sem raízes. Eu vivo do vento que não tem direção, eu vivo da ilusão que preenche o ar de agonia e perdão.
Vivo do temor do nada e de esperar coisa alguma. Vivo de paixões inatas e de verdades desconhecidas. Vivo de procurar a escuridão para poder enxergar com clareza, vivo das mentiras que me certificam das minhas incertezas.
Respiro fumaça e tomo banho de lama, me escondo na multidão e me exponho em casa. Me rasgo com risos, me cicatrizo com lágrimas; me cubro de gozo, me deleito de jubilo.
Me visto de virtude apenas para me despir.
Vazio. Nada sinto e isso é tão estranho para mim. Nada de lágrimas, nada de tristeza, nada de felicidade. Só diversão. Nem culpa. Não há nada. Nada para refletir.
Tudo está branco e, de vez enquando, rabiscado, como uma pintura moderna ou apenas uma pintura feita à dedo. Com tinta que sai com o ar. Tudo se acaba no outro dia.
É a falta de futuro, de visão, é só a vida no dia-a-dia sem pensar no amanhã. É o sol que sempre nasce e se põe, é essa a única certeza.
Falta de sentimentos, oca. A dor sempre passa, só que não resta nada depois da dor. Só diversão sem paixão.
Se é bom ou ruim, depende do momento, depende da pessoa, da quantidade de álcool e nicotina. E nada disso importa no fim de tudo. O caminho que se percorre só interessa ao seu bel-prazer, o fim dele sempre é a morte.
Essa é a nossa espera e entrega profunda.