terça-feira, 22 de março de 2011

                                 Deveria dormir enquanto todos acordam?
                                 Deveria piscar enquanto todos olham?
                                 Deveria sussurrar enquanto todos se calam?
                                 Deveria calar-se enquanto todos gritam?
                                 Deveria sonhar enquanto todos se enfastigam?
                                 Deveria entediar-se enquanto todos riem?
                                 Deveria sorrir enquanto todos choram?
                                 Deveria chorar enquanto todos dormem? 


 Noites, belas noites, que outrora me acolhiam na paz do silêncio e inundavam-me de sentimentos fantasiosos que traziam a mágica esperança do amanhã.
 Noite, bela noite de hoje que me invade com angústias irreais e faz com que eu sinta o peso da realidade. 
 Insônia, ah! Insônia. Carregada de dor em suas entranhas, levando à loucura da sanidade insana de saber o que é possível. E os sonhos são sempre impossíveis. Talvez por isso não durma.
 A imaginação vaga da luz à obscuridade, da alegria à tristeza, e o que sobra e só incerteza. Vãs ilusões, sombras do que poderia ter sido e do que poderia ser, nenhuma clareza
 Não é para entender, não é para diferenciar, não há expressão para parafrasear. Há o nítido embaçamento de tudo o que é bom e tudo o que é ruim, pois não existe nenhuma linha tênue que os separe.
 É delicadeza e brutalidade, pureza e obscenidade, é excesso. Excesso do que é bom e do que é ruim, excesso, sufocante.
 Sortilégio e contestação.

É assim...







  Morro porque a morte também é vida, porque a amargura se torna doce, porque a eternidade é uma ilusão, porque a tristeza é pura e inocente, porque a verdade é fatal.
 O sangue corre pelas entranhas e escorre vermelho-rubro pelos pulsos, a lágrima é o riso da desesperança, é a compaixão estremecida da realidade alheia. É o fundo do poço, mas ainda cavo.
 Porque não há como reerguer, como cristal que não cola, como viver é violar outras vidas, como a calma é a letargia da solidao. A visão que vê o ser, o sofrer e a depressão, a escuridão da alma suja, a água podre que se dá aos que tem sede.
 É a mentira, porque tudo não passa de uma mentira. A grande mentira da busca que se perde por não haver perfeição. É a imundice do corpo nu e dos olhos vendados, alarmados, cantando a verdade, explodindo de vontade.
 O desejo cru. O beijo selvagem. O gosto. A tentação. A respiração. O coração sem ritmo, à beira do abismo, pronto para pular. Se esquiva, salta, dança, gaba da própria má sorte. Forte. E inócuo. Profundo porque é vazio. Arisco. Condenado à morte.
 Morro. Porque não vivo. Por não querer saber como seria se não fosse...